Fugir de Casa
- Eliete Bahia
- 27 de abr. de 2018
- 2 min de leitura

Quem nunca, quando mais jovem já não quis fugir de casa?
Bem, eu planejei várias vezes mas sempre fiquei presa ao medo do mundo lá fora. A final perder a comodidade do lar, cama, comida, roupa e proteção do papai e mamãe ainda era melhor no carcere que a liberdade incerta em uma selva oculta que o mundo me parecia.
Bem, o tempo passou e eu como boa gente pacifica seguir o script que a sociedade nos intima a seguir: nascer- estudar- casar- ter filhos- trabalhar- e- morrer. Esse enredo até que tem partes boas, mas o final é dramático de mais.
Overdose de ralidade é a ruína do ser humano. Há que se ter uma janela, uma porta, uma escada para o imaginário, para o idílico - ou para o tormento, que seja. Ninguém é uma coisa só, ninguém é tão único, tão encerrado em si próprio, tão refém do que lhe é ensinado. Será que só eu tenho um Deus e um diabo morando na minha mente? Como segurar a onda? Fugindo de casa? Mas agora eu sou responsável e dona da casa.
Segui as regres até aqui, formei uma família, tenho afetos que são sagrados, não cheguei até aqui em vão. Passei dos 30 - na verdade dos 40 - e o balanço é positivo. Sou confiável. Confiável até de mais!
Então, porque ainda quero fugir de casa?
Eu pondero, tu pondera, nós ponderemos. Procuramos evitar aquilo que tumultuaria nosso morno e satisfatório bem-estar. Mantemos tudo como reza a cartilha. Mas se está tudo no seu devido lugar, por que tomamos remédio para dormir, por que choramos no chuveiro durante o banho, por que a buscar desesperada por autoajuda, por que as vezes nos falta o ar?
Talvez porque sentimos um misto de culpa e inocência. Estamos agindo certo sem saber onde o certo nos levará, se para o céu ou para uma úlcera.
Conversando com uma amiga, pelo whatsApp ( gostaria que fosse num bar tomando cerveja...). Ela bem mais jovem que eu, percebi que tal angustia não é só minha, que não sou a única a me sentir assim, com desejo de fugir de sumir, e deixar para trás todos os afetos que nos são sagrados, todo o nosso currículo de tarefas feitas, e ficar a disposição do imponderável, dos impulsos, do incerto.
Então, percebemos, que eu quanto ela somos explosivas, radicais ou "Porra loucas", por não conseguirmos aceitar seguir no asfalto, liso e reto, mas desejar a estrada de pedras, tortas cheias de altos e baixos...
Todo o resto é muito mais vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nosso silêncio inquisidores, a pureza e inocência que se mantém vivas dentro de nós mas que ninguém percebe, só porque crescemos. seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo que deve ser feito mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Ainda desejamos e planejamos fugir de casa.
L.É.T BAHIA
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